Após dez anos sem representação, o bairro Morumbi volta a ter uma associação de moradores. O advogado e empresário Maurício Castilha foi eleito presidente e promete recolocar em pauta as principais demandas da comunidade.

O bairro Morumbi, conhecido antigamente como São Francisco – ou carinhosamente “Chicão” –, vive um momento decisivo em sua história comunitária. Após dez anos sem uma associação de moradores ativa, o advogado e empresário Maurício Castilha foi eleito presidente da nova entidade, no dia 28 de setembro. A posse está prevista para ocorrer entre 30 e 40 dias após a eleição, com cerimônia aberta à comunidade, autoridades e imprensa.
A ausência de uma representação formal tem sido, segundo Castilha, um dos principais entraves para o desenvolvimento da região. “Sem uma associação, não há voz coletiva. Isso retarda o progresso, dificulta o diálogo com o poder público e compromete a distribuição de recursos”, afirma.
O Morumbi começou a crescer em 1976, impulsionado pela chegada de trabalhadores da Itaipu. Hoje, com cerca de 50 mil habitantes, o bairro enfrenta estagnação e carência de infraestrutura básica.
Em 2017, a última associação ativa – a do Morumbi II – perdeu seu imóvel após um leilão judicial motivado por inadimplência de IPTU. “A diretoria da época sequer solicitou isenção. O imóvel foi vendido por menos da metade do valor avaliado e a comunidade perdeu um patrimônio que hoje valeria cerca de R$ 800 mil”, lamenta Castilha.

Propostas e estrutura da nova associação
A nova associação, segundo ele, não tem caráter executivo, mas representativo. “Não vamos construir obras, vamos reivindicar, acompanhar e levantar os interesses da população”, explica.
Entre os projetos estão a criação de conselhos temáticos (empresarial, feminino e jovem) e a formação de um corpo de 50 conselheiros, com foco em segurança, infraestrutura e desenvolvimento econômico.
Castilha destaca a importância de reuniões mensais com a prefeitura e buscará o reconhecimento de utilidade pública municipal para viabilizar a cessão de um imóvel. “O antigo módulo policial seria ideal. Mostraria que o Morumbi voltou a ter voz”, afirma.
Mais presença do Estado
Com dimensão superior à de cidades como Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu, o Morumbi ainda carece de serviços públicos essenciais. “Precisamos de uma agência da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, de serviços públicos. Na Avenida Mário Filho, nossa espinha dorsal, teremos agora uma lotérica, graças à iniciativa da empresária Silvane”, comemora, embora considere ainda muito pouco.
Demandas urgentes e projetos em pauta
A nova diretoria começa a desenhar um novo mapa de prioridades. Em reuniões de alinhamento com a equipe do secretário Edinardo Aguiar, de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Agricultura, a nova gestão se inteirou e discutiu um conjunto de demandas que, se atendidas, podem recolocar a região no eixo do desenvolvimento urbano:
Capela Mortuária
Uma das mais sensíveis é a situação da Capela Mortuária. Segundo Castilha, o espaço é inadequado em diversos aspectos. “Não tem sofá, não tem climatização, não tem proteção contra o sol e quando chove molha tudo por dentro. A iluminação é precária, não há câmeras, nem vigilância. Já houve casos de violência, assaltos, roubo de celulares. Quando alguém precisa velar um ente querido ali, já avisam que é perigoso”, relata.

A estrutura, que deveria oferecer acolhimento e segurança em momentos delicados, se tornou motivo de preocupação. “A administração atual pode até ter boa vontade, mas falta estrutura. É louvável que ainda esteja funcionando, porque pelas condições, já teria fechado”, afirma o presidente.
A associação pretende participar ativamente da discussão sobre a reestruturação da capela mortuária. Castilha lembra que bairros como Porto Meira e Vila C têm previsão legal para esse tipo de equipamento público, enquanto o Morumbi sequer foi incluído. “Vamos cobrar que o Morumbi tenha uma capela digna, como qualquer outro bairro. Não é apenas uma questão de infraestrutura, é respeito com a comunidade”, reforça.
Módulo policial
O antigo módulo policial foi solicitado como sede da associação. A proposta é transformar o espaço em ponto de referência para articulação comunitária e atendimento às demandas locais.
Centro comunitário no antigo SESI
Desativado há cerca de 15 anos, o prédio do SESI pode ganhar nova vida. O projeto prevê a instalação de uma escola de formação profissional, espaço para capacitação empresarial e um auditório para eventos, feiras e atividades culturais.

Revitalização da Avenida Mário Filho
Estudos realizados anteriormente pelo núcleo empresarial e pela UDC serão retomados pela associação. A avenida, considerada a espinha dorsal da região, pede melhorias que refletem sua importância estratégica.
Prolongamento da Avenida Alemanha
Já em fase de planejamento, o prolongamento da via deve melhorar a mobilidade e conectar áreas hoje isoladas do bairro.
Levantamento de imóveis públicos ociosos
A associação pretende mapear terrenos e edificações sem uso para propor reaproveitamento comunitário. “Não podemos permitir que espaços públicos virem ruínas silenciosas”, pontua Castilha.

Semáforo na Mário Filho com República Argentina
A interseção, marcada por congestionamentos e riscos, entrou na lista de urgências. A instalação de um semáforo é vista como medida básica de segurança viária.
Mobilidade e meio ambiente: foco na Jules Rimet
Castilha defende melhorias simples e eficazes. “O núcleo empresarial pediu estacionamento em diagonal na Jules Rimet. O Foztrans negou, mas há viabilidade para uma ciclovia e pista de caminhada. O terreno central é público e pode ser aproveitado com segurança”, afirma.

Outra pauta ganha força: a preservação ambiental. Há interesse em transformar a floresta localizada na Jules Rimet, que abriga seis nascentes, em parque ambiental. O alerta se intensifica com a constatação de que um posto de saúde foi construído dentro da área de manancial, uma intervenção que, segundo moradores, jamais deveria ter ocorrido.
Para transformar a área em parque ambiental será necessário que a prefeitura realize estudos técnicos preliminares e avalie a viabilidade do projeto. “Não é uma obra cara. É uma ação de respeito à natureza e à população”, reforça Castilha.

Além da preservação das nascentes, o parque resolveria problemas recorrentes de enxurradas vindas da Rua Canindé, que afetam diretamente a região. “Seria um espaço agradável para os moradores, um refúgio verde e uma solução prática para questões urbanas. Para isso serve a associação: para ouvir, propor e cobrar”, conclui o presidente.
Elefantes brancos e passivos urbanos
No coração do Morumbi, um prédio esquecido há quase duas décadas pode finalmente reencontrar sua função social. O antigo SESI, imóvel hoje considerado um “elefante branco” pela comunidade, será alvo de um projeto de reativação que promete devolver à população o que lhe foi negado por anos: formação, cultura e espaço coletivo.

A proposta alinhada com o secretário de desenvolvimento econômico, trabalho e agricultura, Edinardo Aguiar, prevê a instalação de uma escola de formação profissional voltada ao programa Meu Primeiro Emprego, além de capacitação empresarial. A antiga quadra esportiva será transformada em auditório, suprindo uma carência histórica do bairro: a ausência de um local para apresentações artísticas, feiras, eventos e audiências públicas.
“Somos vizinhos do maior distrito industrial da cidade, temos dois polos aqui e nenhum curso de formação. É preciso fazer algo pelos nossos jovens”, afirma Castilha. Segundo ele, a prefeitura já notificou a ONG que ocupa o espaço para desocupação, e o secretário Edinardo confirmou que o processo está em andamento.
Outro foco de preocupação é com o Residencial Duque de Caxias, apontado pelo presidente da associação como o segundo maior criadouro de escorpiões da cidade. O local abriga esgoto a céu aberto e estruturas abandonadas, gerando riscos sanitários e ambientais. Moradores da região, incluindo o presidente da recém-eleita associação, Maurício Castilha, já encaminharam notificações à prefeitura solicitando providências.

Segundo informações repassadas à associação, a Caixa Econômica Federal pretende devolver o terreno ao município, devido ao alto custo de manutenção. A prefeitura, por sua vez, ainda não formalizou o aceite, embora haja estudos para reaproveitamento da área. Uma das propostas em análise está relacionada a instalação de uma empresa de trituração de concreto, no novo parque industrial, o que poderia iniciar a demolição das estruturas abandonadas e dar novo uso ao espaço.
“É um terreno grande, com potencial para abrigar um posto de saúde, que é uma demanda real da comunidade”, afirma Castilha. No entanto, o cenário se complica com a previsão de construção de dois novos residenciais ao lado do Duque de Caxias, que devem receber cerca de 1.100 moradores. O projeto não passou por estudo de impacto urbano, segundo a associação.
A obra foi assinada no final do ano passado, ainda na gestão anterior, sem consulta pública. Em resposta, os moradores organizaram um abaixo-assinado com 308 assinaturas contrárias à iniciativa. “Não somos contra moradia, mas é preciso planejamento. Já faltam vagas em creches na região. Como absorver mais 1.100 pessoas sem estrutura?”, questiona Castilha.
A associação defende que o residencial Duque de Caxias seja reaproveitado para atender essas demandas, evitando a sobrecarga de serviços e a desvalorização imobiliária. “Esse tipo de obra acontece quando não há uma associação de moradores atuante. Agora temos voz, e vamos usá-la para indicar o que o bairro realmente precisa”, conclui o presidente.
Segurança, iluminação e comunicação
A associação pretende cobrar mais policiamento, instalação de câmeras, melhoria da iluminação pública e atuação efetiva junto ao Conselho de Segurança da Região Leste. “Na minha visão, esse conselho deveria ter sede no Morumbi, somos o maior bairro da região”, sustenta. Também será criada uma rede de comunicação via redes sociais e WhatsApp para informar os moradores e acompanhar os pedidos coletivos.
Resgate do associativismo
“Queremos resgatar o associativismo, dar voz ao Morumbi e planejar o futuro do bairro para os próximos 5 a 10 anos. O povo daqui é lutador e está na hora de sermos ouvidos”, conclui Castilha.
Por Redação Descubra Seu Bairro













